Quem sou eu

Meu nome é Vera Helena. Meu interesse e objetivo consiste em conversar e trocar impressões e experiências sobre Alzheimer. Minha mãe, (foto acima) é portadora desta patologia e acho importante que a troca exista no sentido de acrescentar conhecimentos e gerar espaços para desabafos entre cuidadores, assim como eu. Dentro do que me proponho oferecer, sinto - me capaz de abordar sobre cuidadores, suas relações com o portador e familiares e sobre o cotidiano que envolve a todos os implicados nessa causa. Para saber mais, em cada segmento há uma justificativa desenvolvida com o objetivo de ajudá-lo. Julgo oportuno mencionar que passado algum tempo, percebo que hoje possuo um trajeto impregnado de experiências diversas pois os desafios acontecem todos os dias. A necessidade de dialogar com pares aumenta a cada dia, pois há momentos em que a solidão e a impotência invadem minha vida! Que tal olharmos para este tema com mais proximidade e conversarmos sobre Alzheimer? Pensem nisso e sobre isso...

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

MEMÓRIA - Importância no trabalho com Alzheimer

Segundo Brandão( 2008), a formaçao das memórias é bastante complexa, porque deriva de muitas interações bioquímicas, que envolvem diversas áreas cerebrais. Afirma também que os acontecimentos e conhecimentos somente são mantidos e lembrados se forem perpassados pela emoção. Isso posto, entendemos que na realidade nos constituímos por aquilo que nos lembramos. Mediante essa constatação, podemos dizer que a memória é de suma importância no desenvolvimento humano, porque estabelece as conexões e vínculos de todos os indivíduos no decorrer da sua existencia.
Nessa direção, entendemos que a preservação da memória capacita os indivíduos a se manterem atualizados e ativos com suas lembranças, inclusive como elemento demarcador de participação efetiva nos grupos sociais que convive. Mas o que fazer quando esta capacidade demonstra sinais de declínio e cisões, mais exatamente quando deflagra o processo da doença de Alzheimer num indivíduo saudável?
Pontuo que, passado o impacto do diagnóstico, abarcando as negações e resistências inerentes, investir na memória do portador, é vital, urgente e muito útil num futuro próximo ou não. Como? A resposta consiste em potencializar um trabalho focado nas memórias e lembranças evocadas para e pelo portador e consequentemente para todos os cuidadores do entorno.
Sobre isso, posso dizer sem medo de errar que, realizar um trabalho desta ordem e natureza, gera resultados extremamente compensadores às partes envolvidas nessa questão.Então, vamos embarcar nessa viagem pelos meandros da memória? Sinalizo que transcreverei o processo efetuado com minha mãe, seguindo alguns roteiros, ou criando outros por motivos alheios à minha vontade, ou seja, adaptações necessárias decorrentes das alterações de comportamento dela. Breve, falaremos sobre isso, certo? Beijos para quem me escuta. Vera Helena, sempre viva.

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18-10-2011- Oficina de Memória- Método e Recursos. Sempre tive interesse por trabalhos relacionados com a memória. Na Puc de São Paulo, no ano de 2008, realizei um curso voltado para oficina de memória auto biográfica e nele, com as leituras recomendadas, aprendi o suficiente para desenvolver um trabalho focado nas memórias da minha mãe. No caso dela, os relatos que colhi levaram-me ao uso de caderno, lápis e só. Nessa direção, recorri a alguns assuntos dentro de um tema maior centrado nas lembranças de tempos idos. No caso: atividades lúdicas da infancia, como: música, desenho, brincadeiras, locais onde se realizavam e amigas.  As escolas que frequentou, bem como o corpo docente e as suas características, disciplinas lecionadas, merenda , dentre outras lembranças escolares. Acrescenta-se os tipos de lazer, como cinema, praças, largos, igrejas, amizades, paisagens, dentre outros assuntos relevantes.
Brevemente, trarei as produções que realizei com minha mãe. Inclusive, um texto relacionado às nossas visitas a um cemitério da cidade dela e as lembranças suscitadas. Beijos e grata. Vera Helena, sempre viva.
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 13- 12-2011 - Visita ao cemitério : lembranças e memória - Conforme mencionei anteriormente, alterações de rota surgem em qualquer projeto que idealizamos. No caso em questão, esclareço e insisto que quando realizamos esse tipo de trabalho, os resultados podem ou não ser positivos. Isso porque contamos com um fator decisivo: os lapsos da memória e as emoções que despertam, com reações imprevisíveis, que precisam ser consideradas essecialmente. Reminiscências provocam sorrisos, tristeza, busca dos amigos idos, dos lugares esquecidos, dentre outros.Cautela, respeito, adaptação a maneira do portador reagir e manifestar demandam atenção constante, ressaltando que o foco é o portador.
Essas teceduras são indispensáveis, para eu discorrer sobre o título deste texto. Muitos podem estranhar a decisão de visitar um cemitério dentro do resgate das lembranças da minha mãe. Esclareço que o desejo de visitar este lugar, partiu dela. Que nos momentos de lucidez plena, me pedia que a levasse ao cemitério para visitar o lugar onde marido e dois filhos se encontravam. Sempre que me propunha isso,eu tentava dissuadi-la da idéia, que nunca consegui. Nos primeiros instantes, a reação era de choro, saudade e lamentação. Depois, mergulhava numa outra realidade, na medida em que a dor se dissipava. Ela se distraía observando as lápides e comentando sobre as famílias, atrelados a outros enfoques, relembrando atributos, fatos vivenciados, local do trabalho, número de filhos e até fatos pitorescos sobre as pessoas daquele universo.Depois de um tempo, alegava cansaço e deixávamos o lugar. O que ficava notório era o fato que ao chegar em casa, ela se sentia mais disposta, alimentando-se bem, especialmente repousando melhor, o que me fez atender aos pedidos dela até  conseguir dominar o movimento da caminhada. Há 3 anos não fizemos mais este passeio, pela incapacidade de locomoção. Beijos e até. Vera Helena, sempre viva.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

CUIDADORES - Quem são esses personagens na vida de um idoso? De repente, não mais que de repente ouvimos a seguinte pergunta : Sabe onde posso encontrar um cuidador ( a ) para minha mãe, pai, tio, amigo, ou uma pessoa que me solicitou para um amigo que necessita?
Uma viagem se inicia em busca desse protagonista de muitas histórias vividas com aquele ser humano que passa a tomar conta, a cuidar. E para os leigos, o que significa CUIDAR? Afinal, o que faz um cuidador? Existe escola de cuidadores? Que tipo de formação eles tem que possuir para exercer esta função? É uma profissão regularizada, ou seja, ela existe em conformidade com as leis trabalhistas brasileiras? Onde encontrar? O que exigir na hora da conversa para contratá-lo? Um familiar ou um amigo pode ser cuidador? Existe limite de idade para ser cuidador? As perguntas e dúvidas são inúmeras, sem contar que muitas vezes a urgência de um cuidador diante de um quadro demencial, aumenta a ansiedade dos familiares e/ ou contratantes do cuidador.
Dentro do que percorri, me proponho compartilhar com os meus parceiros virtuais um pouco das vivências que passo com essa pessoa imprescindível no dia a dia de uma relação ou de relações destinadas ao cuidar. São José dos Campos, 29.09.2011.Paz e bem. Vera Helena.


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Legislação e Realidade

Quando percebemos que um idoso necessita de ajuda para pagar as suas contas, fazer compras, preparar suas refeições e depois para ir ao banheiro, locomover-se, banhar-se, vestir-se, alimentar-se e ministrar remédios, a presença de um cuidador é condição fundamental para a sua segurança e qualidade de vida.
De acordo com o art.229 da Constituição  Brasileira, os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade.( YOSHITOME, 2003). De uma maneira geral, esse cuidado era delegado às mulheres, que com a sua participação no universo do trabalho, modificou essa estrutura, fazendo com que  a figura do cuidador nem sempre pertencesse mais ao universo familiar, círculo de amigos ou vizinhança. Falamos mesmo do cuidador formal, uma pessoa remunerada para o exercício dessa função.
Yoshiome( 2003) sinaliza para a o Ministério da Previdência e Assistência Social  que define o cuidador formal como uma pessoa com capacidade de ajudar o idoso em suas atividades de vida diária, promovendo uma interação entre o idoso, a família e os serviços de saúde ou da comunidade. É remunerado. Deve ter como perfil: ensino fundamental completo, ser maior de idade e possuir conhecimento adquirido por meio de uma entidade reconhecida.
Com a experiência que vivencio afirmo que, entre o que se preconiza legalmente e o que efetivamente acontece existe um vazio muito grande. População idosa aumentando, novos modelos e arranjos familiares  sendo organizados e constituídos, com valores e necessidades diferentes num país que não se preparou economica e educacionalmente para esse contingente de idosos, são alguns dos fatores que devem ser levados em conta quando focamos nossas atenção nesse personagem que é o cuidador de idosos. Mais exatamente: onde encontrar uma pessoa preenchida com as qualificações exigidas pela lei vigente?
Entretanto, nesse mesmo caminho que percorro posso afirmar que é possível encontrar cuidadores responsáveis e cumpridores das suas obrigações, ainda que sem possuirem tais qualificações logo na contratação inicial. E sobre esse assunto, me proponho a comentar no nosso próximo encontro. Saudações da Vera Helena. 1º/10/2011.


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Contratação de Cuidadores - algumas dicas.Sobre a contratação inicial de um cuidador ( a) algumas sugestões devem ser levadas em conta, tais como: fazer contato com essa pessoa por no mínimo umas duas vezes.Perguntas essenciais : Você gosta de idosos? Tem alguma noção do que seja Alzheimer?, são fundamentais.

Essas duas questões são suficientes para os encontros iniciais,que embora em número reduzido, nos permite coletar dados e verificarmos a possibilidade de prosseguirmos para a contratação, ou não. Com certeza, através de uma escuta atenta e sensível, perceberemos aptidões e objetivos desse cuidador, inclusive os motivos que o levaram a buscar esse tipo de serviço.Nesses encontros, recomenda-se que no mínimo dois contratantes estejam presentes, na medida em que a memória de duas pessoas colabora e acrescenta elementos para aquilo que se pleiteia.E do lado do cuidador, isso é positivo já que o mesmo estabelece contatos com mais responsáveis, permitindo-lhe uma visão dos contratantes. Sabemos que tudo isso, não significa garantia de êxito na contratação, mas é necessário que assim aconteça, num período aproximado de  uma hora, a fim de que as partes interessadas se olhem e avaliem, pois como mencionei, isso consiste no mínimo que deve ser realizado, quando agimos com responsabilidade.
Outro ponto que precisa ficar claro, refere-se às informaçãoes antecedentes a esses encontros. Falo das referências desse profissional, condição relevante no processo a ser iniciado.Afinal, esse cuidador, entrará no ambiente doméstico, ocupando um lugar de destaque na estrutura da casa. Então, é primordial que seja uma pessoa que se encaixe no perfil que todos precisam. Ou seja, alguns combinados já devem ter sido conversados, para que fique muito claro os espaços e o trânsito de cada elemento do domicílio.
No convívio, as respostas da perguntas iniciais vão sinalizando os acertos e os desacertos desse cuidador, que como tal, merece explicações sedimentadas no diálogo permanente, onde todos aprendem muito, já que sabemos da infinidade de sintomas que essa patologia apresenta, carecendo de muito esforço, boa vontade e um desejo intenso de aprender todos os dias! Talvez algum leitor interessado esteja indagando o motivo de ainda não ter trazido mais características de um cuidador. Fico cautelosa, porque é preciso muita calma, mesmo que a ansiedade e necessidade se façam prementes, mas de acordo com tudo o que vi e passei até hoje, entendo que devagar também é pressa e espero abordar sobre isso no nosso próximo bate papo. Saudações carinhosas da Vera Helena. Dia 04/10/11. Paz e bem

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COLABORAÇÃO DO CUIDADOR OU PREJUÍZO DO PORTADOR? Um dos apectos que devem e precisam ser reforçados com rigor e muita frequencia, é o respeito e incentivo à autonomia do portador. E tal conquista só pode ser efetivada e mantida com o incentivo do cuidador. Que por sua vez, necessita de orientações mais direcionadas sobre o cuidar com pacientes de Alzheimer permanentemente!Abordo sobre esta formação em decorrência de um evento que presenciei com minha mãe e sua cuidadora. Na hora do almoço, encontrei as duas no refeitório onde minha mãe reside. Qual não foi minha surpresa, assitir a cuidadora dando a refeição na boca da minha mãe! Esperei o momento oportuno para conversar e esclarecer a ela, que o ato da minha mãe alimentar-se sozinha é fundamental para estimular e manter esta autonomia, conservando  com isso esta habilidade motora, no caso a única que minha mãe realiza sozinha! Manter-se calmo nesta hora é de suma importância, sobretudo no momento da abordagem ao cuidador, que necessita de respeito e ética sempre! Os ajustes devem e precisam ser realizados, no dia e hora adequados, preferencialmente em particular.
Na conversa, a cuidadora alegou que para minha minha mãe,  o ato de alimentar-se devidamente, era o mais importante. Concordei com ela, mas sugeri algumas alterações de conduta. Combinamos então que minha mãe se alimentaria sozinha até alegar saciedade ou cansaço. E se a quantidade ingerida fosse insuficiente, daí ela colaboraria no ato de alimentá-la complementando com a quantidade suficiente.