Quem sou eu

Meu nome é Vera Helena. Meu interesse e objetivo consiste em conversar e trocar impressões e experiências sobre Alzheimer. Minha mãe, (foto acima) é portadora desta patologia e acho importante que a troca exista no sentido de acrescentar conhecimentos e gerar espaços para desabafos entre cuidadores, assim como eu. Dentro do que me proponho oferecer, sinto - me capaz de abordar sobre cuidadores, suas relações com o portador e familiares e sobre o cotidiano que envolve a todos os implicados nessa causa. Para saber mais, em cada segmento há uma justificativa desenvolvida com o objetivo de ajudá-lo. Julgo oportuno mencionar que passado algum tempo, percebo que hoje possuo um trajeto impregnado de experiências diversas pois os desafios acontecem todos os dias. A necessidade de dialogar com pares aumenta a cada dia, pois há momentos em que a solidão e a impotência invadem minha vida! Que tal olharmos para este tema com mais proximidade e conversarmos sobre Alzheimer? Pensem nisso e sobre isso...

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Quando o pouco é muito - Diariamente, subo a escada do local onde minha mãe reside a me questionar  acerca do estado dela. A oscilação é constante e previsível em todos os sentidos. Nesses últimos dias, tenho me valido de algumas evocações pontuais no diálogo possível com minha mãe. Depois das saudações iniciais, percebo que ela se recolhe e se aquieta. E manter a oralidade é fator essencial, com ganhos diversos. É neste momento que recorro ao passado, que para minha mãe é o seu tempo presente, posto que constitui-se no repertório que possui e dispõe. Então eu digo para ela: mãe, sabe quem telefonou hoje para a senhora? E ela sempre indaga : quem?  Respondo verbalizando o nome de uma ou duas das suas irmãs.Pois mais do que isso, ela não processa e nem retém  no pouco tempo da sua capacidade de registrar e elaborar uma resposta lógica. Resposta esta constantemente verbalizada com palavras pertinentes à pergunta efetuada. Mais ainda: com expressão facial visivelmente alegre. No mesmo foco, elaboro mais uma ou duas questões curtas, que ela responde coerente e prazerosamente. Saio de lá com a certeza que nos mobilizamos positivamente, atitudes estas que, como bálsamo de ternura, me incentiva a prosseguir e prosseguir todos os dias, um pouquinho de cada vez e sempre! Deixo um abraço afetuoso para os meus parceiros de leitura, além da minha gratidão. Vera Helena, sempre viva. 28/08/2012.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Entre belas e surpreendentes surpresas - De fato, podemos acreditar que no exaurir das nossas forças, desafiadas até  limites desconhecidos, surgem fatos que nos desbancam e deixam atônitos. Explicando melhor: tenho compartilhado passo a passo com meus amigos leitores sobre o caminho realizado com minha mãe, no enfrentamento diário com o Alzheimer e o Parkinson. A fase do momento tem sido mais leve, proveitosa e entendível, proporcionando um diálogo vigoroso dentro dos limites que possuímos. E nesse fluxo da vida, a data do aniversário da minha mãe se aproxima e com ela, potencializo indagações sobre o evento. Salvo um dia em que não se recordou, todos os outros, quando eu menciono não me lembrar de quem é o aniversário do dia 21 de setembro, ouço a seguinte resposta: é o meu! Reajo com atitude de surpresa e agradecimento por ter sido lembrada e afirmo que é preciso fazer um bolo. Ela acena positiva e alegremente, esbanjando um sorriso matreiro e feliz. Esboço dúvidas sobre o sabor do bolo: fubá, ou chocolate? Rapidamente, ouço a seguinte escolha: chocolate! Persisto questionando: com ou sem cobertura? Sem pestanejar ela me diz: com cobertura!
Então, me comprazo nestes intervalos que o processo da doença nos concede. Com alegria, ternura e uma certa inquietude, me preparo para um novo dia, sem certeza alguma mas com muita curiosidade, fonte geradora das minhas ações e cuidados filiais.Um alerta: nunca subestime as conexões neuronais de um portador de Alzheimer, pois as surpresas ocorridas no dia a dia, quebram certezas e todos pontos finais! Cautela, prudência e aceitação incessantes consistem na prática nossa de cada dia! Beijos e gratidão aos que me escutam e enxergam. Vera Helena, sempre viva. 13/08/ 2012.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Entre ciclos: a vida!  Os sintomas decorrentes das sequelas instaladas no quadro da minha mãe, se intensificaram nestes últimos 20 dias do mes de julho. Diante da baixa  capacidade de movimentação, a tosse aumentou, a deglutição ficou mais comprometida e com isso, o ato de babar também se intensificou requerendo medidas e cuidados mais apurados. Afirmo que houve dias em que assisti minha mãe muito abatida, sem forças e vivacidade, levando-me a uma preocupação muito grande, acompanhada de uma fragilidade que, em aguns momentos, não conseguia me recuperar. O que surpreende, é a vida acontecendo na sua inexoralidade e surpresas desafiadoras ao nosso entendimento. Explicando: mesmo nos dias em que minha mãe não conseguia proferir nenhuma palavra, os seus olhos verdes moviam-se a me acompanhar, mostrando que embora sem falar, se fazia presente e em entendimento, com o movimento do olhar. Percebi que, mesmo com este silencio imposto pelas circunstâncias, era preciso comentar sobre o seu estado, longe dela; já que embora com o vocabulário diminuído significativamente, era preciso nos precavermos. Hoje, posso dizer que a minha intuição foi procedente, porque, com  a sua melhora, as respostas curtas e breves sobre algumas questões dirigidas à ela, voltaram revelando coerência, a sinalizar para que assuntos relacionados ao estado do portador, devem e precisam ser realizados distante dele! Prudência sempre!
Mais uma vez, eu agradeço a fidelidade daqueles que me escutam e enxergam. Deixo um beijo, meu carinho e gratidão. Vera Helena, sempre viva! 1º/08/2012.