Quando há espaço para ver e sentir - Ontem, dia 28 de março, comemorou-se em clima de festa os aniversários das pensionistas do local onde minha mãe reside. Tudo colaborou para que a alegria se instalasse e permanecesse já nos preparativos, no decorrer e com certeza posteriormente na forma de lembranças felizes.Puro deleite! Uma amiga e o seu irmão esbanjaram talento, no dedilhar da sanfona e do teclado. O salão estava todo enfeitado com bexigas, as senhoras, bem vestidas nos seus trajes de passeio, mostrando cores variadas, bem maquiadas e bonitas! Um perfume suave exalava no ar e, ao som dos instrumentos, cantaram, bailaram, bateram palmas e realizaram os movimentos que lhes eram solicitados e possíveis de serem executados. Cada qual dentro dos seus limites a viajar pelos recônditos da memória de tempos vividos e reverenciados com graça e leveza. Nesse cenário, presenciei cenas únicas marcadas para sempre nas minhas recordações! A senhorinha surda dançou com entusiasmo quase o tempo todo do "baile" no salão. A poetisa e trovadora dedicou os seus agradecimentos aos músicos com pensamentos, trovas curtas e longas, poesias de autores nacionais. A senhora italiana que se negava a dançar impedida pelas tonturas, não resistiu quando ouviu a velha canção da sua terra longínqua e comigo, rodopiou entusiasticamente pelo salão... Minha mãe querida, cantou baixinho e comigo, completava as palavras das letras de algumas músicas que ela se lembrava. Energia e emoção indescritíveis, disponibilizadas para quem teve olhos para ver e sentimentos para deixar fluir! Uma certeza: criada a oportunidade, todas as idosas desembrulharam com singeleza os seus guardados dos seus baús de histórias!
Finalizada a festança, da qual a grande maioria não queria que ocorresse, percebi no semblante de cada uma delas, a presença de um brilho intenso com gostinho de "quero muito mais"!
Quanto a mim, me sagrei vitoriosa por assistir a um espetáculo de encantamento, ternura e afeto a correr dentro de mim. Deixo um beijo e um abraço carinhoso para os que se dispõem a caminhar nesse meu caminho e a fazer do meu viver um aprendizado. Vera Helena, sempre viva. 29/03/14.