Quem sou eu

Meu nome é Vera Helena. Meu interesse e objetivo consiste em conversar e trocar impressões e experiências sobre Alzheimer. Minha mãe, (foto acima) é portadora desta patologia e acho importante que a troca exista no sentido de acrescentar conhecimentos e gerar espaços para desabafos entre cuidadores, assim como eu. Dentro do que me proponho oferecer, sinto - me capaz de abordar sobre cuidadores, suas relações com o portador e familiares e sobre o cotidiano que envolve a todos os implicados nessa causa. Para saber mais, em cada segmento há uma justificativa desenvolvida com o objetivo de ajudá-lo. Julgo oportuno mencionar que passado algum tempo, percebo que hoje possuo um trajeto impregnado de experiências diversas pois os desafios acontecem todos os dias. A necessidade de dialogar com pares aumenta a cada dia, pois há momentos em que a solidão e a impotência invadem minha vida! Que tal olharmos para este tema com mais proximidade e conversarmos sobre Alzheimer? Pensem nisso e sobre isso...

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Desafios e gotas de alegria - O estado geral de saúde da minha mãe, passa por uma fase de fragilização.O abatimento é consequência da situação. E com isso, uma série de medidas são tomadas. Questões novas vão surgindo, tais como: melhor o uso da sonda? Quais os caminhos e entraves burocráticos a serem seguidos e surgidos de acordo com a cobertura que o convênio disponibiliza? Alternativas despontam e meus passos são dirigidos para elas, algumas com sucesso e outras não. Diante das negativas e evidências, prossigo na busca de substitutos. Junto a isso, procuro me fazer presente ao lado da minha mãe querida, já que sou a única referência de mundo, sobretudo do afetivo que minha mãe possui e se norteia. É prazeroso assistir o seu olhar me acompanhando com aqueles lindos olhos verdes, ora mais límpidos e noutras mais opacos. A capacidade dela verbalizar palavras e constituir frases com sons nítidos diminui dia a dia. É preciso ficar bem próximo dela para escutar o que fala, sempre com respostas coerentes e contextualizadas, encontrando as palavras certas no momento certo.São frases bem curtas às vezes formadas por 2 palavras, mas pertinentes ao que se indaga. O som emitido surge com uma tonalidade diferente, mais grosso e entrecortado, talvez pela rigidez muscular que se aloja também nos músculos faciais.
Vale mencionar e compartilhar o ocorrido num desses dias em que ficamos no quarto dela, só nós duas. Comuniquei para ela que cantaria as canções que ela cantava quando eu era criança. No caso: Índia, Maringá, O grão de areia, A estrela Dalva e outras. Justifico que nem sei se estes são os nomes verdadeiros das músicas. Depois, cantei a canção da minha mãe: O bêbado e o equilibrista. E me emocionei quando ela movimentava os lábios, proferindo sons possíveis a me acompanhar...Preferi não continuar porque ela está com uma tosse muito forte e com o esforço gerado, ela começou a tossir. E como se encontra com dificuldade de deglutição, percebi que o mais prudente era finalizar aquele momento repleto de encanto e sensibilidade. Abracei-a muito e despedi-me dela tomando a sua benção, que ela me concedeu com esforço visível, mas presente! Esses instantes proporcionam vigor e força para os caminhos que vamos caminhar com alegria, aceitação, ação constante e fé permanente! Beijos e gratidão àqueles que me escutam. Vera Helena, sempre viva- 20/07/2012.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Lições de vida em vida - Sempre que posso me disponho a  ficar com minha mãe. Isso acontece quase que diariamente. O abatimento e fragilidade dela se intensificam a olhos vistos. Aceitar o imutável  e proporcionar qualidade em todos os segmentos possíveis prossegue dentro da estrutura que dispomos. Dias desses, passeava com ela empurrando a sua cadeira de rodas. Dialoguei e cantei o diálogo e sons possíveis. Silenciei o silencio afetuoso e cúmplice, entendendo os sinais emitidos, bem conhecidos na nossa relação. E num determinado momento, deixei de caminhar e paramos num local comum e coletivo das senhoras do local. Observei minha mãe com carinho, também com o objetivo de avaliar se ela estava confortável e segura. O dia estava frio e chuvoso. Verifiquei que ela estava suficientemente protegida pela roupa que usava. O sentimento despertado foi de tranquilidade e de um despojar de qualquer tipo de culpa. Subitamente, lembrei-me do jeito de ser da minha mãe, que raramente se queixava ou lamentava, ainda que com muitos motivos para o fazê-lo. Sempre disposta, alegre, disponível aos que dela necessitassem, muito fiel ao que lhe relatavam, angariando com isso, o afeto de todos. Com isso, frequentemente era convidada para eventos diversos já que a sua presença era desejada e esperada nos mesmos. Naquele relance- fração do tempo, constatei que ela sempre se agarrou ao que a vida lhe ofereceu e compreendi que aprender com o seu exemplo consiste na melhor lição e tarefa que posso levar comigo. E assim sigo eu, num caminhar e ritmo de um tempo que me sugere muita reflexão, aceitação,paciência e paz! Sobretudo, muita fé! Beijos da sempre viva Vera Helena. 09/07/2012.