Quem sou eu

Meu nome é Vera Helena. Meu interesse e objetivo consiste em conversar e trocar impressões e experiências sobre Alzheimer. Minha mãe, (foto acima) é portadora desta patologia e acho importante que a troca exista no sentido de acrescentar conhecimentos e gerar espaços para desabafos entre cuidadores, assim como eu. Dentro do que me proponho oferecer, sinto - me capaz de abordar sobre cuidadores, suas relações com o portador e familiares e sobre o cotidiano que envolve a todos os implicados nessa causa. Para saber mais, em cada segmento há uma justificativa desenvolvida com o objetivo de ajudá-lo. Julgo oportuno mencionar que passado algum tempo, percebo que hoje possuo um trajeto impregnado de experiências diversas pois os desafios acontecem todos os dias. A necessidade de dialogar com pares aumenta a cada dia, pois há momentos em que a solidão e a impotência invadem minha vida! Que tal olharmos para este tema com mais proximidade e conversarmos sobre Alzheimer? Pensem nisso e sobre isso...

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

01.09.11- O SILENCIO SE INSTALANDO


Hoje percebi que o silêncio, o tom de voz mais baixo, a sensação de desligamento prossegue. O que permanece, é o sorriso e a surpresa expressados quando na minha chegada, sempre a indagar : chegou agora?
Sinto que é preciso força, calma e discernimento para o estágio que minha mãe se encaminha. Até eu escrevo pouco diante do novo vivenciado nesses últimos dias. Vigor? Busco e encontro o suficiente para um dia de cada vez. Até sempre da Vera Helena.

----------------------------------------------------------------------------------------------------------------



13.09.11 - MISSA E IMPACIÊNCIA

Ontem, assisti a missa com minha mãe como faço todos os domingos. Ela mostrou-se mais impaciente com a incapacidade de manusear o folheto referente ao tema do dia. A todo instante, reclamava de não conseguir acompanhar o conteúdo escrito, o que me fez tomar uma atitude inédita até então. Recolhi o folheto alegando que estava incorreto, na medida em que não era o daquele dia, tendo o mesmo procedimento com o meu. Ela ficou mais tranquila, embora manifestasse a sua frustração ao perceber que não dominava tudo o que acontecia, irritando-se com isso. O que me chamou a atenção, foi o fato dela cantar quase todas as músicas que definitivamente não se encaixam no período da maior parte das lembranças possíveis evocadas por ela. No caso, ela tem verbalizado sobre a infancia e o seu entorno. A sua memória musical está alojada numa fase posterior, evidenciando com isso a descontinuidade dos circuitos neuronais que vão se perdendo e se mantendo.Não se respeita a mesma sequencia! Isso me deixou feliz, pois existe mais repertório a ser estimulado com atividades que ela ainda pode desenvolver. Na minha leiguice, afirmo insistentemente que a neurologia contitui-se na ciência do século XXI e que ela deve explicações a nós, os familiares dos portadores, a fim de oferecermos luz, voz e vida enquanto existir possibilidades!


 -------------------------------------------------------------------------------------------------------------



20.09.2011 REUNIÃO COM AS CUIDADORAS - motivo: novos comportamentos maternos.
  


De: Vera Helena
Para: Ana Cláudia, Nilva e Silvia.
Objetivo do nosso encontro: tomar conhecimento e conversar sobre o estágio da patologia da dona Antonia Caruso Rodrigues.
Estágio que ela se encontra: entre o segundo e terceiro estágio.
Comportamentos/ características e reações apresentadas: mais calada, silenciosa, impaciente, irritada, às vezes com a musculatura mais dura. Memória se alternando.
 Ainda há vida e precisamos estimular para ela viver bem!
Atividades/ Iniciativas que devem ser desenvolvidas – Sugestões:
·         Leitura – uso da lupa, ler textos com trechos curtos, mas insistir na leitura
·         Jogo de palavras – usar o material que tem disponível
·         Música – cantar, colocar C.D sempre
·         Leitura dos trabalhos de memórias – ela ainda se lembra das pessoas, ou dos lugares, da cidade
·         Caminhada comprometida: cuidado com as quedas!
·         Dúvidas/ Incertezas que tiverem: pedir ajuda para a Irmã Elisete ou as enfermeiras
·         Paciência/ Amor – não deixar de lutar um pouquinho a cada dia e sempre!
·         Solicitar esclarecimento de tudo o que tiverem dúvida quando a Vera disser ou escrever algo que não tenham entendido.
·          Sentir-se participante de uma equipe de cuidadoras da qual o José Eduardo e a Vera Helena valorizam e agradecem por todos os serviços prestados para a nossa mãe querida!



“Ninguém tem nada só para si, alguém tem o que tu procuras e alguém procura o que tu tens... COLABORA!!!( desconhecido)


Sucesso!

São José dos Campos, 17/09/11
                      
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------


20/10/11 - MAMÃE - DORES E DESAFIOS PARA O DIAGNÓSTICO - Há 07 dias atrás, minha mãe queixou-se de dores nas costas. Como permanece sentada a maior parte do tempo, pensei que fosse decorrente disso, aliado aos dias frios, que promove mais sensibilidade na região dolorida. Fizemos massagem com arnica gel, colocamos bolsa de água quente, a fisioterapêuta fez uso de aparelhos indicados para isso.  Ocorre que, depois essas dores se estenderam para locais variados: parte superior, inferior das costas, nos glúteos, coxas, pernas, nos quais realizamos procedimentos similares aos mencionados. Por várias vezes ela chorou, principalmente quando fazíamos o movimento de retirá-la da cadeira para dirigir-se ao banheiro, à cama, ao banho e outros espaços. E era um choro com sinais de dor! Outro sintoma surgiu: a vontade de fazer xixi várias vezes sem obter êxito na ação desejada. Pelo fato de frequentar cursos focados no envelhecimento, suspeitei de problemas relacionados à parte urinária. Fiz contato com a geriatra, solicitei um pedido de exame de urina e agilizei a parte burocrática para tal. Sugeri o mesmo em caráter de urgência, porque o semblante da minha mãe estampava dor e era preciso diaganosticar o que sentia. Passado um dia, vimos no resultado que uma infecção urinária provocou tais sintomas.Para aliviar a dor, uma injeção foi ministrada até que o resultado do segundo exame fique pronto. Tal injeção amenizou as dores, as queixas e aquela imagem de dor, de alguém pedindo colo, caminhos e soluções. Sobre o revelado no outro exame, nos falaremos brevemente.
Até agora, o que aprendi foi que devemos e precisamos ficar atentos aos reclames do portador, sem diminuir os cuidados e sensibilidade diante de um quadro de queixa. E essa escuta atenta e sensível decorre da atenção que o cuidador devota ao portador. A comunicação entre cuidador, familiares e  responsáveis dos lugares onde vive o portador, é fundamental para que o sucesso aconteça! Sobremaneira, que o cuidador possua noções elementares sobre cuidados voltados para o portador.
Por hoje, eu me despeço dos meus companheiros de percurso. Beijos e saudações carinhosas da Vera Helena, sempre viva.

-----------------------------------------------------------------------------------------------------------

17.11 Sobre a nova fase - observações e comentários. Como havia mencionado, minha mãe encaminha-se para um tempo de mais silencio, no qual outros desafios despontam, no sentido de encontrarmos sinais de comunicação, a fim de que o diálogo se estabeleça e prossiga. No momento, tenho percebido, por tentativa, acertos e erros, que a melhor conduta é a de olhar, tocar o seu rosto, segurar as suas mãos e esperar que ela emita algum sinal de fala. Então, inicio a nossa conversa, sempre como resposta ao que ela verbaliza, num tom de voz mais baixo, solicitando muita atenção e cautela. Isto porque, notei que, quando me comporto como nos últimos meses, ela fica muito irritada, pois percebe que não se lembra mais de pessoa alguma, de objetos, cidades e fatos diversos que antes eram os pontos centrais dos nossos bate papos.Por isso, no momento tento buscar um novo jeito de nos comunicarmos.Ontem por exemplo, mostrei um porta retrato com foto da sua mãe e irmã. E indaguei sobre elas. Minha mãe reconheceu a própria mãe e não se lembrou da irmã.Fui dando algumas pistas sobre a irmã esquecida e devagarzinho ela recordou o nome e alguns fatos relativos a ela.Também cantei músicas do tempo dela, que ela correspondeu cantando junto, ainda que baixinho, mas cantou: isto é o mais importante e necessário porque o estímulo foi correspondido. O que indica que sempre há uma forma de contato, desde que se tenha criatividade e boa vontade por parte de todos os que convivem diretamente com o portador!

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

22/11/11 SILENCIO E NOVAS POSSIBILIDADES.Conforme mencionado, o silencio tem sido o sinal mais visível na minha mãe. Silencio nas palavras, nos gestos dando lugar a um desejo de deitar e dormir, sempre alegando sono e cansaço.
Mas, como digo sempre, eu insisto sobre outras janelas que podem e devem se abrir no processo degenerativo da doença da minha mãe amada. Então, com atenção e escuta sensível, percebi um brilho diferente e mais intenso no olhar dela. Entendi que esta é a forma que ela encontrou de se comunicar.Diante disso, o que fazer, como proceder para gerar comunicação possível? Decidi olhá-la também com a profundidade e amor que sou olhada, verificando que há tempos eu não olhava de forma tão vibrante como nos olhamos agora. E assim vamos nós, brincado de amar dentro do amor possível, mas amor gentil e verdadeiro. Saudações da Vera sempre viva.

----------------------------------------------------------------------------------------------------------------


28/11/11 - O SILENCIO NAS RELAÇÕES: criar é preciso!Tenho observado que a cada dia, salvo algumas exceções,  minha mãe silencia gradativamente seguindo a literatura médica sobre Alzheimer e seus estágios. No dela, o silencio tem sido frequente, junto com um caminhar lento, dificultado pela rigidez dos músculos, solicitando dos cuidadores mais força e destreza, sobretudo mais cuidado no trato diário desde as funções mais simples até as mais complexas.
Também acredito nas substituições, sempre possíveis se tivermos boa vontade e critatividade!
Diante desse cenário, fiquei pensando numa outra maneira de comunicação com minha mãe querida. Particularmente no mes e comemorações que se aproximam, refleti sobre uma maneira de materializar o tempo de Natal com minha mãe e fazermos disso os votos de Feliz Natal. Principalmente os dela aos nossos amigos, parentes e amigas dela dos tempos sancarlenses...
Atitudes tomadas: busquei mensagem natalina que sei, ela gostaria de compartilhar. Digitei, pois minha mãe perdeu a habilidade de escrever... A professora aposentou lápis e cadernos... Mas era preciso que a marca da minha mãe fizesse parte da mensagem. Lembrei-me da alegria que sinto quando peço um beijo,  juntamente com o beijo da benção na minha chegada e partida. Deixei um espaço reservado no papel que redigi. Num momento oportuno, passei batom nos seus lábios, da cor que ela aprecia e pedi que beijasse o papel no lugar reservado para tal. Pronto: a mensagem saiu!Brevemente os nossos amigos e parentes receberão um beijo da minha mãe como presente-lembrança de FELIZES FESTAS! Até breve! Vera, sempre viva.