Quem sou eu

Meu nome é Vera Helena. Meu interesse e objetivo consiste em conversar e trocar impressões e experiências sobre Alzheimer. Minha mãe, (foto acima) é portadora desta patologia e acho importante que a troca exista no sentido de acrescentar conhecimentos e gerar espaços para desabafos entre cuidadores, assim como eu. Dentro do que me proponho oferecer, sinto - me capaz de abordar sobre cuidadores, suas relações com o portador e familiares e sobre o cotidiano que envolve a todos os implicados nessa causa. Para saber mais, em cada segmento há uma justificativa desenvolvida com o objetivo de ajudá-lo. Julgo oportuno mencionar que passado algum tempo, percebo que hoje possuo um trajeto impregnado de experiências diversas pois os desafios acontecem todos os dias. A necessidade de dialogar com pares aumenta a cada dia, pois há momentos em que a solidão e a impotência invadem minha vida! Que tal olharmos para este tema com mais proximidade e conversarmos sobre Alzheimer? Pensem nisso e sobre isso...

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Memória Equilibrista

Memória Equilibrista - Ontem, estive com minha mãe no início do anoitecer. Ela ressonava. Beijei-a várias vezes e ela se manteve do mesmo jeito. Depois de alguns minutos ela abriu os olhos e sorriu com o semblante de um recém - nascido, tamanha a inocência do seu gesto... Ternura e singeleza! Convidei-a para cantar no que ela acenou positivamente. A primeira música que veio à minha mente foi "O Bêbado e o Equilibrista", a sua música! Eu iniciava a frase e ela prosseguia ora cantando e noutras verbalizando a palavra a ser completada. Em meio a sorrisos e candura entoamos canções variadas, dentre elas " Índia ", da qual ela me disse que desconhecia, mas logo que a iniciamos, ela reagiu da mesma forma. Depois, rezamos e ela recordou-se das orações que realizamos a sorrir muito. Sempre indagando se eu podia continuar me vali de várias lembranças, todas evocadas como se fosse a primeira vez. Surpreendentemente, ela correspondeu a todas elas, inclusive se emocionando ao falar da sua irmã caçula, a sua pequenininha! Nesse cenário, o que mais me inquieta relaciona-se à música do bêbado e o equilibrista, na medida em que a mesma foi introduzida na sua vida, muito depois das lembranças que ainda se alojam na sua memória. Isso se contrapõe ao que lemos sobre a doença de Alzheimer, posto que há perda de muitas memórias que sucessivamente vão sendo apagadas... Na minha leiguice, penso que o significado desta melodia e letra pertencem a momentos emblemáticos da sua trajetória, por isso ainda mantido. Tal fato me alerta  para que todas as pessoas que dela se achegarem, evitem falar sobre assuntos relacionados ao seu estado e evolução, já que existe a possibilidade de ela nos ouvir, compreender e se angustiar. Também nós precisamos nos equilibrar nas nossas certezas e incertezas dos fazeres nossos de cada dia. Deixo um beijo para os meus fiéis seguidores. Com carinho e gratidão da Vera Helena, sempre viva. 28/07/14

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Dia a dia, passo a passo

Dia a dia, passo a passo eu vou - Quando não existe alteração mais significativa na rotina diária da minha mãe, afirmo aos que me indagam sobre ela que tudo vai bem. Os parâmetros oscilam e muitas vezes eu me equivoco nas decisões e caminhos a serem seguidos. Com cautela e muito silencio, observo os movimentos que interagem sucessivamente. No local onde ela vive, assisto a vida instalada de muitas formas e estágios nas senhoras que também escolheram aquele lugar como refúgio para as suas existências. Com algumas delas eu me distraio, dialogo e aprendo muito! A grande maioria gosta de conversar e por estes minutinhos de atenção que lhes devoto, ficam exageradamente agradecidas, talvez por carência penso eu ... Nesse caminhar, o tempo dispendido acontece na estrutura de apoio desenvolvida para minha mãe. Ou seja, administrar os fazeres das cuidadoras e de outros protagonistas que envolvem o entorno e o seu desdobramento que ocorre inexoravelmente. Uma situação se destaca nesse espiral: a minha solidão! Muitos dos meus companheiros de percurso têm se espalhado para outras paragens. Para isso, muitos argumentos têm sido utilizados, destacadamente, a insuportabilidade de assistirem a qualidade de vida da minha mãe, de fato, muito comprometida e ruim. Promover e disponibilizar os recursos possíveis tem sido a minha atitude. Que sem dúvida alguma retrata o meu ponto de vista sobre o ato de cuidar! Quanto ao restante, entendo que não me cabe decidir e muito menos entender, porque se aloja num campo que transcende o entendimento de conceitos filosóficos e espirituais. Na lousa da minha casa escrevo assim: dia a dia, passo a passo me faço, refaço, invento, reinvento e vou....Beijos e gratidão. Vera Helena, sempre viva. 09/07/14