Quem sou eu

Meu nome é Vera Helena. Meu interesse e objetivo consiste em conversar e trocar impressões e experiências sobre Alzheimer. Minha mãe, (foto acima) é portadora desta patologia e acho importante que a troca exista no sentido de acrescentar conhecimentos e gerar espaços para desabafos entre cuidadores, assim como eu. Dentro do que me proponho oferecer, sinto - me capaz de abordar sobre cuidadores, suas relações com o portador e familiares e sobre o cotidiano que envolve a todos os implicados nessa causa. Para saber mais, em cada segmento há uma justificativa desenvolvida com o objetivo de ajudá-lo. Julgo oportuno mencionar que passado algum tempo, percebo que hoje possuo um trajeto impregnado de experiências diversas pois os desafios acontecem todos os dias. A necessidade de dialogar com pares aumenta a cada dia, pois há momentos em que a solidão e a impotência invadem minha vida! Que tal olharmos para este tema com mais proximidade e conversarmos sobre Alzheimer? Pensem nisso e sobre isso...

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Os dois F da minha mãe - Somos parte do tempo que é infinito. Nele, passamos e imprimimos nossas marcas.Também temos e fazemos o nosso tempo, dentro das possibilidades que nos são oferecidas, nas quais nos identificamos. No caso da minha mãe querida, como digo sempre, há um fluxo, filho deste tempo que não controlamos e que nos permite assistir a construção de cada um no percurso da sua vida. A referência do tempo também se altera na velhice. Sinto que há momentos em que um dia equivale a um ano. Fato este que nos permite viver com intensidade os instantes de cada dia.Sobre isso, viajei por 5 dias, ficando sem ver minha mãe neste período. E os dois F, mencionados no título desta escrita, se mostram cada vez mais.No que consistem os mesmos? Em Frágil e Forte! Não resta dúvida que a vida que minha mãe teve, ocasiona esta fortaleza que existe nela. Com raros eventos de doença em toda a sua trajetória, ela tem se mostrado muito forte, enquanto portadora de duas patologias que a consomem: o Alzheimer e o Parkinson. Mas, não resta dúvida que a fragilidade caminha a passos largos, fazendo sintomas no seu corpo forte. Ontem, saí de lá com a sensação de que ficara um ano sem vê-la, tamanha a diferença que estes 5 dias geraram nela. Irritada, cansada, me pedindo para dormir a todo momento. Muito calor, desconforto e impotência mediante este calvário que minha mãe-força, tem vivido. Tempo de desejar o melhor para ela, porque sei que a providência cuida de nós! Grata pela escuta. Beijos da Vera Helena, sempre viva. 31/10/12

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Observações Cotidianas: algumas impressões - Conforme mencionado dias atrás, no local onde minha mãe mora, há senhoras que são portadoras de alguma doença que afeta a memória. Consequentemente, as atitudes delas são decorrentes desta perda neuronal. Entretanto, há aquelas que lá residem por opção própria, ou como decisão familiar decorrente de necessidades diversas. Estas, não possuem comprometimento ligado à memória, portanto, "situam-se" adequadamente no dia a dia, atentas aos acontecimentos de maneira lúcida.Sobre estes universos diferentes, me inquieto a refletir se elas têm ganhos com este contato, na medida em que nem sempre se relacionam com os seus pares. Ou seja, muitas vezes, " conversam " uma conversa inócua, estéril, sem eco, na medida em que muito pouco do conteúdo destas falas têm coerência suficiente para o bate papo prosseguir naturalmente. Como decorrência dessa frustração, surge o silencio e isso não é saudável! Na contrapartida, vivencio e desfruto de outros momentos ímpares, oferecidos àqueles que conseguem sentir a magnitude dos mesmos. Um deste momentos é a hora da missa, onde reunidas quase que diariamente, se solidarizam diante do que este evento pode suscitar em cada uma delas. Assisti-las cantando, orando em silencio ou em preces faladas, é um convite para que eu me faça presente sempre que puder. Inclusive, por verificar que velhos hábitos permanecem atuais nos gestos da minha mãe, que com dificuldade, os executa revivendo um passado sempre presente enquanto possível! E assim vamos nós: um dia de cada vez e sempre! Beijos para todos. Vera Helena, sempre viva. 18/10/2012.

sábado, 6 de outubro de 2012

Caminhos, descaminhos, perdas e ganhos - No local onde minha mãe reside, outras senhoras escolheram como morada.Como vou até lá diariamente, conheço todas as pensionistas que possuem os seus aposentos no mesmo andar que minha mãe habita. Nossos laços afetivos se apertam e afrouxam simultaneamente. Pois há uma maioria delas que são portadoras de Alzheimer e como tal, me cumprimentam como se todos os dias fosse a primeira vez. E eu, me comporto com atitudes que também fazem-nas pensar que me vêem pela primeira vez.A energia é sempre muito boa, levando-me a pensar que  me encontro numa situação privilegiada, porque observo e presencio situações repletas de ternura e encantamento, nas quais aprendo lições que nenhuma literatura menciona, já que as mesmas derivam de relações inéditas e nem sempre repetidas.Sorrisos, solicitações diversas, acenos de mão, envio de beijos e despedidas delicadas, compõem o quadro de algumas ações que vivencio com frequência. Além disso, conto com as canções entoadas, que me reavivam lembranças felizes, as poesias declamadas por uma senhora para outra colega em dias de comemorações. Sem dúvida, são emoções que me tocam imensamente. Estes instantes me alimentam e renovam, sobretudo em períodos que me deparo com desafios desencadeados pelas pessoas que cuidam da minha mãe e que por questões pessoais se atritam, requerendo minha intervenção com o objetivo de esclarecer e dialogar a fim de garantir um cotidiano harmonioso para minha mãe amada. Portanto, benditas senhorinhas que me acalmam e impulsionam a seguir adiante! Um beijo no coração de cada um dos que caminham pelos meus caminhos. Vera Helena, sempre viva. 06/10/12