Quem sou eu

Meu nome é Vera Helena. Meu interesse e objetivo consiste em conversar e trocar impressões e experiências sobre Alzheimer. Minha mãe, (foto acima) é portadora desta patologia e acho importante que a troca exista no sentido de acrescentar conhecimentos e gerar espaços para desabafos entre cuidadores, assim como eu. Dentro do que me proponho oferecer, sinto - me capaz de abordar sobre cuidadores, suas relações com o portador e familiares e sobre o cotidiano que envolve a todos os implicados nessa causa. Para saber mais, em cada segmento há uma justificativa desenvolvida com o objetivo de ajudá-lo. Julgo oportuno mencionar que passado algum tempo, percebo que hoje possuo um trajeto impregnado de experiências diversas pois os desafios acontecem todos os dias. A necessidade de dialogar com pares aumenta a cada dia, pois há momentos em que a solidão e a impotência invadem minha vida! Que tal olharmos para este tema com mais proximidade e conversarmos sobre Alzheimer? Pensem nisso e sobre isso...

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Entre o risco e o riso.

Entre o risco e o riso - O cotidiano da minha mãe tem sido marcado pelo silencio e um desconforto visível. Todos os cuidados e procedimentos seguem a mesma pauta. Todavia, isso não tem bastado para reverter o quadro instalado. Nos nossos encontros diários busco me comportar de maneira alegre e participativa independentemente da ausência da troca nos estímulos que ofereço. Fato é que não sabemos o nível de consciência de um portador de Alzheimer, por isso cautela e respeito são elementos essenciais quando se conversa perto do mesmo. Nesse caminho, aprendi que cuidar e organizar os elementos que compõem o universo da minha mãe é o que precisa ser realizado. Nesse fluxo, me alimento e fortaleço entre perdas e ganhos e prossigo dia a dia ... Boas e singelas surpresas! Nestes três últimos dias, minha mãe tem sorrido, verbalizado frases curtas e me beijado em atendimento aos meus pedidos, ainda que por instantes para logo se alojar no "seu mundo". Isso tem me bastado para gerar energia suficiente para realizar o que precisa e deve ser feito a fim de provê-la com o que necessita para seguir nos ensinando a difícil arte de envelhecer e aceitar o fluxo cotidiano. Beijos, paz, bem e muita alegria aos que me seguem. Com gratidão. Vera Helena, sempre viva. 23.09.14 *** Este texto já deveria estar postado há tempo. Não sei o que ocorreu.

Noventa e um anos e a vida possível!

No dia 21 passado minha mãe amada completou 91 anos de vida. Muita história na sua história mesclada de conquistas, alegrias e tristezas! Avaliando este percurso, uma característica surpreende positivamente: a sua saúde! Pois, mesmo diante de tanta fragilidade ocasionada pelas patologias que a acometem ela supera expectativas e derruba teorias! Todavia, há algum tempo ela tem apresentado um quadro de sofrimento visível devido à falta de ar em decorrência da incapacidade de deglutição e de expelir o que fica armazenado nas suas vias respiratórias. Os recursos disponíveis têm sido utilizados como a aspiração e a higiene bucal realizadas várias vezes ao dia. No caso do primeiro, o mesmo tem um limite de uso porque existe o risco de ferir as partes internas expostas a manipulação. Recursos mais específico foram requeridos e estão sendo aguardados, na medida em que dependemos de outras instituições. Assistir a essa cena tem sido desolador e triste mesmo sabendo que minha mãe se encontra cercada de cuidados e carinho por parte daqueles que se relacionam direta e indiretamente com ela. Com a proximidade do dia 21 pensei muito em como celebrar mais um ano da sua bravia e exemplar existência! Fazer o bolo de chocolate conforme me pediu nos aniversários anteriores transformou-se em algo inviável pois há quase um ano ela se alimenta via sonda. Além disso, se irrita e assusta com facilidade quando retirada do seu ambiente. Decidi celebrar junto de três amigas muito queridas cantando as suas canções preferidas, bem baixinho além de termos rezado com ela. O sinal manifestado ocorreu por intermédio do seu olhar a nos acompanhar com os seus vibrantes olhos verdes. Naquele dia particularmente ela se encontrava bastante secretiva, fator de impedimento a outra reação. Cantamos o imperdível "Parabéns para você" com direito a velinha acesa e muito emocionada me retirei do seu quarto. Lá fora, caía uma chuva fina, o ar exalava frescor e cheiro de terra molhada, tendo no chão muitas pétalas de flores coloridas. O calendário sinalizava para o dia da árvore e a breve chegada da primavera. Considerei esse cenário como um presente ofertado pela natureza para minha mãe, que sempre cuidou e preservou das árvores e flores das ruas e casas que vivemos com muito desvelo e força! Saudações carinhosas e permeadas de gratidão aos que me seguem nesse percurso duro, espinhoso e de muito aprendizado frente às inúmeras possibilidades que proporciona aos que decidem caminhar entre dores e amores. Vera Helena, sempre viva. 23-09-2014