Quem sou eu

Meu nome é Vera Helena. Meu interesse e objetivo consiste em conversar e trocar impressões e experiências sobre Alzheimer. Minha mãe, (foto acima) é portadora desta patologia e acho importante que a troca exista no sentido de acrescentar conhecimentos e gerar espaços para desabafos entre cuidadores, assim como eu. Dentro do que me proponho oferecer, sinto - me capaz de abordar sobre cuidadores, suas relações com o portador e familiares e sobre o cotidiano que envolve a todos os implicados nessa causa. Para saber mais, em cada segmento há uma justificativa desenvolvida com o objetivo de ajudá-lo. Julgo oportuno mencionar que passado algum tempo, percebo que hoje possuo um trajeto impregnado de experiências diversas pois os desafios acontecem todos os dias. A necessidade de dialogar com pares aumenta a cada dia, pois há momentos em que a solidão e a impotência invadem minha vida! Que tal olharmos para este tema com mais proximidade e conversarmos sobre Alzheimer? Pensem nisso e sobre isso...

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Memória: os velhos e sempre novos registros.

Se há um recurso que recomendo a todos os que se relacionam com portadores de Alzheimer é o de realizar registros de temas variados que compõem o percurso de todo o ser humano. No caso: a infância e nela, o bairro e seu entorno, a escola, professores, os amigos, brincadeiras e os personagens importantes desse período que, com paciência e respeito ao limite do portador vão tecendo belas produções. Tempo de muita fecundidade com as descobertas que essa ação proporciona, sem falar da alegria e aprendizado que ocorrem no decorrer do processo. Muito bom saber das rodas de histórias promovidas pela vovozinha (minha bisavó) a aquecer as noites frias e estreladas daquela São Carlos de tempos idos... Nesse compasso, viajei por outras fases do desenvolvimento da minha mãe, pois colhi relatos da adolescência e idade adulta dentre outras.
Hoje, com o avanço da doença instalada, asseguro que ainda me valho dos fragmentos das lembranças que transcrevi com ela. Exemplo disso ocorreu a 2 dias atrás. A cuidadora do período noturno teve um compromisso impedindo-a de chegar no horário de costume. Como minha mãe tem engasgado com muita facilidade optei em não deixá-la sozinha e fiquei com ela até o retorno da cuidadora. Tem sido raro o dia em que ela tem conseguido proferir algum som e palavra. O seu olhar vivo e esverdeado (cor dos olhos dela) tem expressado sofrimento e exaustão. Busco tranquilidade e alegria nesse momento igualmente difícil para mim. Lembrei-me que numa das gavetinhas do velho criado mudo havia a letra do hino da formatura da minha mãe. Cantei para ela, junto de outras canções que ela sempre apreciou. Fazendo carinho nos seus cabelos percebi que ela se acalmava. Interrompi nossa cantoria por algumas vezes a fim de retirar o excesso de secreção na sua boca, como resultado da impossibilidade da deglutição. Esse gesto de cantar nos possibilita o contato possível pelo qual procuro trazer pedacinhos de realidade diante do que ela ainda apresenta. Assim, nos encontramos e nos amamos no formato permitido pela inexorabilidade do curso da nossa vida, mas sempre vida!
Um beijo a todos os que devotam instantes de carinho com os frutos colhidos no caminho que a vida me concede. Gratidão para cada um dos meus seguidores. Vera Helena, sempre viva - 21/08/14

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

O bom senso na lida de cada dia

O bom senso na lida de cada dia - O estado geral da minha mãe inspira cuidados e vigilância realizados em tempo integral. Decisões sobre os procedimentos adequados acontecem com frequência, levando-nos a fazer uso da criatividade e do bom senso. Uma situação vivida nesses dias ilustra essa afirmação. De vez em quando, minha mãe apresenta dificuldade para respirar, engolir e deglutir, promovendo uma tosse intensa e incessante. Com isso, o seu sono se interrompe a todo instante e sua rotina e qualidade de vida ficam comprometidas. E ele, o bom senso deve prevalecer com os recursos que dispomos. Algumas questões: fazer uso de um xarope mesmo que a tosse não se origine de nenhum quadro gripal ou das vias aéreas? Aspirar com todos os riscos que pode acarretar já que a possibilidade de ferir a região é grande? Entretanto, é preciso agir! Conversar com a geriatra me conforta e, de forma compartilhada, definimos os caminhos. Nesse caso, decidimos por um antitussígeno e aspirações pontuais. Assim, buscamos o que nos é possível num universo de práticas inviáveis, a fim de realizarmos o melhor para a minha mãe. Sem mais, eu me despeço com gratidão para os meus seguidores, sempre muito queridos e fiéis! Vera Helena, sempre viva. 08/08/2014.