Quem sou eu

Meu nome é Vera Helena. Meu interesse e objetivo consiste em conversar e trocar impressões e experiências sobre Alzheimer. Minha mãe, (foto acima) é portadora desta patologia e acho importante que a troca exista no sentido de acrescentar conhecimentos e gerar espaços para desabafos entre cuidadores, assim como eu. Dentro do que me proponho oferecer, sinto - me capaz de abordar sobre cuidadores, suas relações com o portador e familiares e sobre o cotidiano que envolve a todos os implicados nessa causa. Para saber mais, em cada segmento há uma justificativa desenvolvida com o objetivo de ajudá-lo. Julgo oportuno mencionar que passado algum tempo, percebo que hoje possuo um trajeto impregnado de experiências diversas pois os desafios acontecem todos os dias. A necessidade de dialogar com pares aumenta a cada dia, pois há momentos em que a solidão e a impotência invadem minha vida! Que tal olharmos para este tema com mais proximidade e conversarmos sobre Alzheimer? Pensem nisso e sobre isso...

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

13.12.2011 - O Silencio : a busca de alternativas para contato. O silencio tem sido muito frequente no quadro da minha mãe. Como em tudo o que diz respeito ao Alzheimer no Brasil é recente, há que se ter cautela com os comportamentos apresentados no portador. Refiro-me ao caso de esquecimento, pois muitas vezes o que imaginamos esquecido e deletado, reaparece, pregando peças nas pessoas do convívio.
Buscando meios de comunicação, recorri a letras de músicas que minha mãe aprecia. E foi uma tarde gostosa, porque ouvi a voz dela que há tempos quase que desaparecera. Entoamos canções do tempo dela e uma que ela gosta demais: a da formatura de professora primária! Revivi instantes de um passado atualizado e posso dizer que neste dia o objetivo e recurso valeram pela alegria estampada na fisionomia da minha mãe amada. Beijos e até sempre da Vera Helena, sempre viva.

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04.01.2012 - Natal: Alzheimer, ajustes e ternura.  Na festa do Natal de 2011 foi mais fácil viver esta data ao lado da minha mãe, pois o desafio maior aconteceu no ano passado, por ser o primeiro que não passamos juntas desde que me conheço por gente.O vazio e peso do novo foram mais intensos em 2010, até porque havia uma distancia mais clara a nos separar, já que minha mãe encontrava-se numa localidade bem próxima da cidade que resido, um atenuante entendido como uma cisão maior.Atualmente, na instituição que minha mãe reside, na qual frequento quase que diariamente, indaguei da responsável acerca do programação festiva. Também, sobre a participação dos familiares e amigos, ou seja da agenda toda. Soube que haveria uma ceia às 18 horas do dia 24 e que nela atuaríamos como parceiros colaboradores com as idosas do lugar. Assim ocorreu e confesso que, de acordo com as comandas efetuadas pela superiora, a cada ação realizada por nós ( minhas filhas e eu), certifiquei-me que para mim, acontecia alí o sentido do Natal; num clima de alegria, paz, beleza e ternura. Foi muito bom dividir e somar em meio àquelas senhoras arrumadas especialmente para o dia, felizes entre as delícias culinárias de diferentes sabores e texturas, sorvendo seus goles de refrigerante, estampando características das suas personalidades dentro do tempo de cada uma delas. Como sempre, aprendi muito e senti que minhas filhas também apreciaram a festa possível com a avó em mais um Natal da nossa família. A leveza que senti nessa vivência, é o que espero ter transmitido aos meus companheiros de percurso dessa patologia tão cruel e desconhecida a nos desafiar e convidar cotidianamente, cujo resultado assistimos entre ganhos e perdas, mas que valem a pena tentar! Beijos e até sempre! Vera, sempre viva Helena.

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Artimanhas do Alzheimer: a questão da coerência - Nesses dias últimos, as alterações de comportamento na minha mãe têm sido frequentes, principalmente na parte das lembranças diante das mesmas situações e perguntas. Ela tem recebido visitas de conhecidos e familiares. Que, demonstram reações diversas, especialmente aqueles que não a visitam por mais tempo.Choro, tristeza, elogios à beleza e aparência dela são as mais usuais.Entretanto, uma situação se repete: a constatação da coerência nas respostas que minha mãe verbaliza, mesmo que muito curtas. Nunca manifestou sinais de incoerência ou dúvidas, sobremaneira verbalizou palavras fora do contexto da conversa. Alguns exemplos: quando indagada sobre o nome de alguém que não se recorda, rapidamente diz: seu nome? O seu nome mesmo! Ou então, quando na mesma pergunta: Sei lá, quem disse que eu tenho que me lembrar de tudo?
Esse é um dos exemplos de uma situação constante, que prometo registrar as muitas outras que acontecem.
Saudações carinhosas da Vera Helena, sempre viva. 13/01/2012
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Minhas férias: o retorno e o medo de não ser reconhecida - Viajei com minha família: marido, filhos, genros, netos e amigos próximos durante uma semana. O descanso foi benéfico em todos os sentidos, proporcionando muita alegria e revigoramento das minhas forças e energias. A saudade da minha mãe se fez presente em todos os dias. E hoje, no retorno à "casa" dela, confesso que fiquei ansiosa e atemorizada pela possibilidade de não ser reconhecida. Encontrei-a serena que ao me ver indagou: chegou agora? Seu tom de voz prossegue cada dia mais baixo, mas na sua fisionomia percebi familiaridade e reconhecimento. Alegre e calma, relatei os mesmos casos de tempos idos, no qual todos os familiares já partidos encontravam-se vivos. Ela gargalhou comigo diante do velho sempre novo e juntas passamos instantes de alegria, dos quais sempre valem a pena pela pureza e ternura que despertam. Paz e bem. Vera Helena, sempre viva. 24/01/2012.

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